Plano de atentado
do Hezbollah em Brasília. Desconfiança do envolvimento de padres e bispos
católicos com grupos armados. Investigações que levaram a dezenas de prisões de
militantes de esquerda e de gente inocente em todo o Distrito Federal. Vidas de
servidores públicos, políticos e empresários devassados. Segredos de parte
importante da história da capital e do país começam a ser desvendados. Muitos
com enredos trágicos, que envolvem crimes comuns, como o consumo de drogas, a
crimes praticados por agentes da ditadura.
Após meio século
de sigilo, o Arquivo Público do DF (ArPDF) permitiu consultas ao acervo da
Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF). São quase 100 caixas de documentos
com informações de 1963 a 1990, guardadas há mais de 50 anos. Muitos contêm o
carimbo “Confidencial” e os timbres de diversos órgãos de repressão, incluindo
o temido DOI-CODI. São registros das operações realizadas por agentes do regime
comandado por generais, até então mantidos sob sigilo.
Os documentos estavam
no Arquivo Público do Distrito Federal desde 1995, mas o acesso era restrito a
funcionários: papelada timbrada e resguardada pelo carimbo
"Confidencial"
Entre elas, uma ampla
apuração, feita em 1984, sobre movimentos como o que a ex-vice governadora do
DF e fundadora do PT na capital, Arlete Sampaio, integrava quando era
estudante. Dossiê do Serviço Nacional de Informações (SNI) traz a ficha
daqueles apontados como líderes e descrição das organizações. “Nunca fui atrás
desses arquivos, mas tenho a curiosidade de saber o que escreveram sobre
mim”, afirmou ontem.
Coordenadora de Arquivo Permanente do ArPDF, Marli Guedes classifica os documentos como fundamentais. “Os dossiês possibilitam tomar conhecimento da dor das famílias, dos desaparecidos políticos e de como o Estado perseguia a população”, defende. O GDF publicou edital, no fim do ano passado, reconhecendo os documentos da Secretaria de SSP-DF como “necessários à recuperação de fatos históricos de maior relevância”. O Executivo deu 60 dias para manifestações e, como não houve questionamentos, o acervo está disponível para consultas. Equipe do Correio examinou mais de 2 mil páginas, cruzou informações e entrevistou alguns dos personagens mencionados na documentação. O material embasa a série de reportagens Brasília Confidencial, iniciada hoje.
Coordenadora de Arquivo Permanente do ArPDF, Marli Guedes classifica os documentos como fundamentais. “Os dossiês possibilitam tomar conhecimento da dor das famílias, dos desaparecidos políticos e de como o Estado perseguia a população”, defende. O GDF publicou edital, no fim do ano passado, reconhecendo os documentos da Secretaria de SSP-DF como “necessários à recuperação de fatos históricos de maior relevância”. O Executivo deu 60 dias para manifestações e, como não houve questionamentos, o acervo está disponível para consultas. Equipe do Correio examinou mais de 2 mil páginas, cruzou informações e entrevistou alguns dos personagens mencionados na documentação. O material embasa a série de reportagens Brasília Confidencial, iniciada hoje.
96
Quantidade de caixas
com documentos reservados da Secretaria de Segurança Pública abertos a
pesquisa.
Órgão temido
O DOI-CODI é a sigla
para Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa
Interna, criado pelos militares para prender e torturar qualquer um contrário
ao regime. Os integrantes desse órgão de repressão eram treinados na Escola
Superior de Guerra (ESG) e defendiam os ideais disseminados pelos ditadores.
“Éramos adolescentes. Conversávamos por carta e tínhamos a ideia de combate ao
regime militar. Para eles, isso era o Grupo Caratinga. Mas a ditadura havia
desmantelado as células de guerrilha do campo e da cidade. As pessoas estavam
recolhidas em universidade, estudando. Não representávamos nenhum risco”
Romário Schettino
Matéria Publicada no
Jornal Correio Brasiliense, 04/02/2017- Adriana Bernardes e Renato Alves.
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