segunda-feira, 10 de outubro de 2016

INTOLERÂNCIA SOCIAL SINÔNIMO DE MASSACRE BRASILEIRO



Não conhecendo nosso passado, nos tornamos cúmplices de crimes que acontecem diariamente diante de nós, como a jornalista Daniela Arbex fala “enquanto o silêncio acobertar a indiferença à sociedade continuará avançando em direção ao passado de barbárie”.
Dados do Ministério da Saúde apontam quem 12% da população brasileira, 22 milhões de pessoas, necessitam de algum atendimento em saúde mental. Há 1.620 Centros de Atenção Psicossocial instalados no país, isso deixa muito longe o indicador do CAPS, que é um centro para cada 100 mil habitantes. Com esses dados podemos falar sobre o livro Holocausto Brasileiro: vida genocídio e 60 mil mortes no maior hospício do Brasil, escrito pela jornalista Daniela Arbex, da editora Geração Editorial, publicado em 2013.  Suas 256 páginas contam uma intrigante história dos sobreviventes de um holocausto em território brasileiro, que ocorreu em grande parte do século XX. Essa história se passa no maior hospício do Brasil, na cidade de Barbacena em Minas Gerais, chamado Colônia.
 Uma leitura que te prende do prefácio até o décimo quarto capítulo que conta a herança que o Colônia deixou para o país. Mais de 60 mil mortes ocorreram dentro dos muros do hospício, no período de maior lotação uma média de 16 mortes por dia, e até na sua morte era lucrativo, pois no período de 1969 a 1980 foram vendidos mais de 1800 corpos para as faculdades do país, um comercio que gerou mais de 600 mil reais de lucro, nos dias de hoje para o hospício. O pior é que se estima que 70% da população que o hospício abrigou não tinham doença mental alguma, mas sim epiléticos, alcoólicos, homossexuais, prostitutas gente que se rebelava ou gente que se tornava incomodo para alguém. Essas pessoas eram transportadas do mesmo modo que os judeus no campo de concentração, por trens que não tinham volta, chegando lá comiam ratos, bebiam esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violados, de todos os meios desde abusos sexuais, até eletrochoques que às vezes eram tanto que chegavam a derrubar a energia da cidade. Uma história que mostra mais uma intolerância social que produziu um massacre na história brasileira. Pessoas conhecidas mundialmente vieram ao hospício, como o italiano Franco Basaglia, que afirmou estar em um campo de concentração nazista.
            Nesse livro encontramos depoimentos de pessoas que, trabalharam, que foram internadas, passaram por lá, defenderam, lutaram para o termino de um hospício com capacidade para 200 pessoas, mas com 5 mil “pacientes”.Fora isso encontramos desde como foi construído o hospício na cidade até como ele está virando um museu. Nessa parte é interessante que a autora cita que muitos coronéis mineiros “nasceram” na época da construção do Colônia, devido ao hospício ser considerado na época um grande curral eleitoral.
            Em suma, esse livro nos traz um passado não tão distante, um passado que não pode ser esquecido, e com ele podemos refletir que os campos de concentração, não estão muito além dos muros do hospício de Barbacena, mas encontramos também esses descasos nos hospitais públicos lotados que funcionam precariamente em muitas cidades do país, as prisões brasileiras que são temas de massacres também. De um modo em geral quando há um descaso se tornamos prisioneiros da realidade, o fato é que essa história que vale a pena ler é a nossa história, apresenta a omissão coletiva, e não esquecendo que a nossa sociedade de tão conservadora é incapaz de suportar diferenças, demonstrando através do hospício todo seu poder de opressão. Uma boa leitura.

PARA ACOMPANHAR, NADA MELHOR QUE UM DOCUMENTÁRIO DA HISTÓRIA DO LIVRO:



DOCUMENTÁRIO: Em Nome da Razão, um Filme Sobre os Porões da Loucura.

SINOPSE: Documentário quase todo filmado no manicômio de Barbacena, Minas Gerais. A câmera penetra em todos os ambientes do hospital - pavilhões de velhos, aleijados, crianças, homens e mulheres. As sequências são interligadas pela imagem de um longo e escuro corredor do hospício e uma 'louca' que canta uma música. Texto narrado em off propõe uma reflexão sobre a função social do manicômio a quem servem os hospitais psiquiátricos, quem são as pessoas enviadas para lá, qual o processo de 'cura' e recuperação a que são submetidos. O filme encerra com depoimentos da família de um paciente.

ANO DE PRODUÇÃO: 1979

DURAÇÃO: 25 minutos      





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