sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

AVANTI, SÃO PAULO!

Por meio de sindicatos, greves, jornais e eventos culturais, os italianos contribuíram muito para a formação do movimento operário brasileiro
                                                                                                                                                                                     Luigi Biondi*

Os avanços trabalhistas dos anos 1930 foram comemorados e são facilmente associados ao governo do presidente Getúlio Vargas, que os consagrou. Entretanto, muitas dessas conquistas eram anseios antigos da população, e brotaram também a partir das experiências que os imigrantes italianos trouxeram para o Brasil.
Os Emigrantes. Angiolo Tommasi, 1895

Eles vieram em grande número. As fábricas e oficinas de São Paulo tinham em seu quadro de funcionários quase 80% de italianos em 1900. Doze anos depois, esses trabalhadores ainda compunham 60% dos operários da indústria têxtil do estado, constituindo boa parte da mão de obra urbana tanto na capital quanto no interior. Da Itália, eles trouxeram a organização em grupos de ação política e sindical, ou ajudaram a fundar no Brasil essas agremiações com outros imigrantes e brasileiros. Onde os italianos eram maioria, como nas cidades paulistas – com exceção de Santos –, o movimento operário organizado era fortemente caracterizado por eles.
A imprensa operária que circulava no estado foi escrita sobretudo em italiano até o início dos anos 1920. Um exemplo é o jornal Avanti!, principal periódico socialista no Brasil e único jornal operário do país com edição diária, de 1902 a 1908.
Assim como ocorria na terra natal, os trabalhadores se agregavam em grupos políticos de várias tendências. Os socialistas estavam ligados ao movimento social-democrata, coordenado pela Associação Internacional dos Trabalhadores, a Segunda Internacional. Acreditavam na integração da ação política de partidos operários com a atividade econômica cooperativa e de confronto entre patrões e empregados por meio dos sindicatos. Além disso, promoviam manifestações, práticas educativas e culturais em associações políticas, de ensino e lazer.  

Também os anarquistas atuaram valendo-se de jornais e na área da cultura, participavam do movimento operário nos momentos de radicalização do conflito de classe, como as greves, embora, em geral, fossem críticos dos sindicatos e das greves parciais e a favor da ação direta dos trabalhadores. Entre 1904 e 1912, publicaram semanalmente aquele que foi considerado o principal jornal libertário no Brasil, La Battaglia, editado em São Paulo e distribuído em todo o país.
Mas esses grupos não eram a maior força. Desde 1904 até o fim da Primeira República, a principal tendência entre os trabalhadores italianos foi o Sindicalismo Revolucionário, que unia elementos do socialismo e do anarquismo. Seus expoentes acreditavam na organização sindical estruturada e nas greves parciais com conquistas moderadas, porém relevantes para o dia a dia do trabalhador. Ao mesmo tempo, tinham como objetivo final a greve geral revolucionária, que teria iniciado uma sociedade socialista fundada nos sindicatos.
Outro reforço importante eram as associações de socorro mútuo. Integradas principalmente por artesãos e operários qualificados, forneciam ajuda aos seus sócios em casos de doença e aposentadoria. Promoviam encontros, comemorações, cursos educativos e apoio a manifestações sindicais.
E foi assim, por meio dessa cultura, que os imigrantes italianos praticaram novas formas de organização e luta trabalhista durante a Primeira República (1889-1930).


*Professor da Universidade Federal de São Paulo e autor de Classe e Nação (Editora da Unicamp, 2011).

MATÉRIA PUBLICADA NA REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, SETEMBRO DE 2011.



PARA ACOMPANHAR, NADA MELHOR QUE UM DOCUMENTÁRIO DA HISTÓRIA :



DOCUMENTÁRIO: Gigantes do Brasil

SINOPSE: Em 516 anos de história brasileira, pouco e conhece sobre a vida dos grandes nomes que fizeram parte da formação econômica e social do país. Foi no início dos anos 1900 que o Brasil começa a ser uma República, um país totalmente diferente do que temos hoje, mas os bons negócios se sobressaem. A história de quatro imigrantes. Matarazzo um imigrante italiano que vem para o país construir uma vida e constrói um império. Farquhar o Norte-Americano que chega ao Brasil e  tem no seu currículo a mais espetacular e impossível obra brasileira a Ferrovia Madeira Mamoré, no estado de Rondônia. O italiano Martinelli, é outro gigante que não precisa de apresentações. Andar pelo centro de São Paulo e não admirar o Edifício Martinelli e pensar em sua astucia em levantar um prédio desse em pleno século XIX é respirar ar do passado certamente. E por fim, o francês Guinle e suas obras mirabolantes por nosso território e adrenalina na veia assistindo essa série. Explorar esse mundo não está mais longe. O Canal History Channel lança e 4 episódios a história desses imigrantes que levaram o Brasil e São Paulo para frente.

ANO DE PRODUÇÃO: 2015

DURAÇÃO: 200 minutos ( 4 episódios de 50 minutos cada)      


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