
Dados
do Ministério da Saúde apontam quem 12% da população brasileira, 22 milhões de
pessoas, necessitam de algum atendimento em saúde mental. Há 1.620 Centros de
Atenção Psicossocial instalados no país, isso deixa muito longe o indicador do
CAPS, que é um centro para cada 100 mil habitantes. Com esses dados podemos
falar sobre o livro Holocausto Brasileiro: vida genocídio e 60 mil mortes no
maior hospício do Brasil, escrito pela jornalista Daniela Arbex, da editora
Geração Editorial, publicado em 2013.
Suas 256 páginas contam uma intrigante história dos sobreviventes de um
holocausto em território brasileiro, que ocorreu em grande parte do século XX.
Essa história se passa no maior hospício do Brasil, na cidade de Barbacena em
Minas Gerais, chamado Colônia.
Uma
leitura que te prende do prefácio até o décimo quarto capítulo que conta a
herança que o Colônia deixou para o país. Mais de 60 mil mortes ocorreram
dentro dos muros do hospício, no período de maior lotação uma média de 16
mortes por dia, e até na sua morte era lucrativo, pois no período de 1969 a
1980 foram vendidos mais de 1800 corpos para as faculdades do país, um comercio
que gerou mais de 600 mil reais de lucro, nos dias de hoje para o hospício. O
pior é que se estima que 70% da população que o hospício abrigou não tinham
doença mental alguma, mas sim epiléticos, alcoólicos, homossexuais, prostitutas
gente que se rebelava ou gente que se tornava incomodo para alguém. Essas
pessoas eram transportadas do mesmo modo que os judeus no campo de
concentração, por trens que não tinham volta, chegando lá comiam ratos, bebiam
esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violados, de todos os
meios desde abusos sexuais, até eletrochoques que às vezes eram tanto que
chegavam a derrubar a energia da cidade. Uma história que mostra mais uma
intolerância social que produziu um massacre na história brasileira. Pessoas
conhecidas mundialmente vieram ao hospício, como o italiano Franco Basaglia,
que afirmou estar em um campo de concentração nazista.
Nesse
livro encontramos depoimentos de pessoas que, trabalharam, que foram
internadas, passaram por lá, defenderam, lutaram para o termino de um hospício
com capacidade para 200 pessoas, mas com 5 mil “pacientes”.Fora isso
encontramos desde como foi construído o hospício na cidade até como ele está
virando um museu. Nessa parte é interessante que a autora cita que muitos
coronéis mineiros “nasceram” na época da construção do Colônia, devido ao
hospício ser considerado na época um grande curral eleitoral.
Em
suma, esse livro nos traz um passado não tão distante, um passado que não pode
ser esquecido, e com ele podemos refletir que os campos de concentração, não estão
muito além dos muros do hospício de Barbacena, mas encontramos também esses
descasos nos hospitais públicos lotados que funcionam precariamente em muitas
cidades do país, as prisões brasileiras que são temas de massacres também. De
um modo em geral quando há um descaso se tornamos prisioneiros da realidade, o
fato é que essa história que vale a pena ler é a nossa história, apresenta a
omissão coletiva, e não esquecendo que a nossa sociedade de tão conservadora é
incapaz de suportar diferenças, demonstrando através do hospício todo seu poder
de opressão. Uma boa leitura.
PARA ACOMPANHAR, NADA
MELHOR QUE UM DOCUMENTÁRIO DA HISTÓRIA DO LIVRO:
DOCUMENTÁRIO: Em Nome da Razão, um Filme Sobre os
Porões da Loucura.
SINOPSE: Documentário quase todo filmado no
manicômio de Barbacena, Minas Gerais. A câmera penetra em todos os ambientes do
hospital - pavilhões de velhos, aleijados, crianças, homens e mulheres. As
sequências são interligadas pela imagem de um longo e escuro corredor do
hospício e uma 'louca' que canta uma música. Texto narrado em off propõe uma
reflexão sobre a função social do manicômio a quem servem os hospitais
psiquiátricos, quem são as pessoas enviadas para lá, qual o processo de 'cura'
e recuperação a que são submetidos. O filme encerra com depoimentos da família
de um paciente.
ANO DE PRODUÇÃO: 1979
DURAÇÃO: 25 minutos
ASSISTA ONLINE:https://www.youtube.com/watch?v=WcSmiMZlnLg